terça-feira, 2 de novembro de 2010

...: Síndrome de Ursinhos Carinhosos :...


01 de novembro de 2010: Dilma Rousseff vence as eleições para presidente do Brasil.
Não que de fato eu tenha creditado alguma gota de confiança nas pesquisas eleitoreiras mal feitas e bem pagas , nem que tenha cedido a idéia de que fitas crepe causam traumatismos sérios, mas posso afirmar-lhes sem temer: há coisas que me deixam bem mais aturdida do que essa noticia.
Tento calcular quantos litros de café foram sorvidos na madrugada desta segunda - feira por alguns jornalistas para manterem-se acordados enquanto editavam e bordavam suas respectivas reportagens, com doses de elogios e preconceito velado para descrever o feito da petista.

Observar essa comoção ensaiada é o que realmente me assusta: uma mulher é eleita presidente deste país e na maioria das emissoras a coisa é tratada nos moldes de um “Arquivo Confidencial” do Faustão!

Dilma no Arquivo Confidencial: "-Como é ser uma presidente-mulher- do- sexo= feminino?"



Mostram-se fotos, entra um fundo musical dramático e surgem pessoas para citar em depoimentos previsíveis as qualidades do então, como dizer...
... “homenageado”? Perdoem-me, mas é difícil adjetivar essa situação.

Eu fiquei trocando os canais e assistindo cada uma das “homenagens” (vou continuar nessa palavra até encontrar uma pior que seja melhor) na esperança de em um dado momento, alguém resolvesse baixar o volume de “ Ursinhos Carinhosos” que estava sendo transmitido excepcionalmente em horário nobre.



Agora também com alguns jornalistas no elenco...


Estava esperando que algum jornalista tratasse a vitória de Dilma como algo possível, tanto que já estava consumado. Repetir que se tratava da–primeira-representante-do-sexo-feminino-no-mais-alto-cargo-da-política-do-país-formada-por–cromossomos-XX-sendo-portanto-uma-mulher, torrou minha paciência!

Essa supra valorização artificial soou como um deboche, daqueles que fazem às mulheres no trânsito, por exemplo, porém em uma escala muito maquiada para não dar a entender de cara o tamanho do absurdo.
Por sinal, absurdo também é acreditar que pelo fato de uma mulher governar o país as pessoas terão uma mãezona em Brasília, já pensaram na Madrasta da Branca de Neve? Pois bem, mulheres também não são exemplos de seres perfeitos, nem mesmo incapazes: são seres buscando acertar!

Uma madrasta em Brasília?


Mas todo mundo bem sabe: na busca do acerto, o erro pode vir de brinde, mas, por favor, amigos jornalistas, não vão entrar nessa de que aconteceu por se tratar de uma mulher na presidência, fica feio para o diploma que alguns de nós temos.

Não seria coerente expor tal acontecimento como cotidiano, pois não é, mas comentar o resultado dessa eleição como algo "fora do normal", fomenta uma discussão sobre o que a política de modo geral considera " aceitavel": corrupção deve se encaixar nessa lista pelo visto.


Vai dizer agora que o Brasil está como está por que seu padroeiro é Nossa Senhora Aparecida,ou seja,uma mulher?
Se preconceito ganhasse Copa do Mundo, o Brasil nem precisava concorrer.

p.s: Antes que os apressados tirem conclusões sem embasamento deixo claro: o assunto aqui discutido é o preconceito com o qual alguns telejornais trataram a vitória de uma mulher para a presidência de nosso país.

Problemas de interpretação textual? Procure professora de redação, novas leituras ou quem sabe, um novo cerebro!


=D