Já ouvi dizer que para o povo africano, a morte de uma pessoa
mais velha significa o mesmo que atear fogo em uma biblioteca: perdem-se com
ela informações e experiências que poderiam acrescentar muito a vida de outras
pessoas.
Eis um pensamento que respeito, sabe?
Aliás, o meu respeito para com os mais velhos estende-se aos
mais antigos, ou melhor, aos nossos ancestrais. Além das heranças óbvias como o
idioma, os costumes e as tradições, creio que uma grande contribuição de nossos
antepassados está expressa nas lendas, essa forma milenar de descrever e
explicar o mundo através de relatos
ricos em detalhes e com uma pitada de magia.
Nesse sentido, tenho que afirmar, a contragosto de ufanistas
verde-amarelos que sou uma grande fã do Halloween. Digo isso por que antes mesmo
de conhecer essa festa a fundo, já era encantada pelo universo místico que os
Celtas criaram há tanto tempo através de seus rituais, capazes de integrar o
calendário de países tão diversos como o Japão e o Brasil.
Sei que antropólogos, folcloristas e até esses defensores de
plástico da identidade nacional devem surtar com esse meu modo de pensar, mas
eu lhes pergunto: - Existe algum movimento advindo da ancestralidade de nosso país que tenha referência em escala global, atingindo do
Oriente ao Ocidente, tal qual o Halloween? Apresentem-me! Eu desconheço!
Tudo bem que o nosso Carnaval tem cópia na Finlândia, o que é
bem pitoresco também, mas trata-se de algo pontual, isto é, as pessoas não saem
vendendo serpentinas mundo afora, e no conceito de ancestralidade, o carnaval
nem é obra nossa, nasceu na Grécia, e, portanto não cabe nesta análise.
Galera caindo no samba em Helsinki, na Finlândia!
Certo que a Europa e mais precisamente, os E .U. A sabem vender os seus produtos como ninguém,
mas o segredo deles e do Halloween não é mero marketing.
A diferença é que por lá eles “vestem a camisa”, ou melhor,
as fantasias! E fazem isso como
desculpa para a esbórnia ou para reviver na brincadeira pura e simples, uma
crença de seus antepassados Celtas.
Claro que há alterações e inferências várias, até por que a cultura
não é um membro engessado sem movimento, mas um braço no melhor estilo Carmem
Miranda: com pulseiras de “ todas as cores” sacodindo de “todas as formas”.
Em nosso país fomos privilegiados com milhares de elementos e manifestações
belíssimas que sequer são ensinadas nas escolas e nossas crianças saem de lá
sem referencia sólida acerca disso.
Há o Dia do Folclore como data comemorativa, mas ninguém sai
pendurando Sacis nas portas de suas casas ou se veste de mula sem cabeça!
O que? Achou ridículo? E decorar o jardim com uma abóbora iluminada
também não é?
Mas a partir do
momento que eu sei que essa abóbora remete à lenda Celta do Jack O’ Lantern e sua saga pelo
Limbo, tudo ganha sentido e a tradição
se fortalece através dos tempos.
Nós também precisamos nos conhecer melhor culturalmente, as
nossas lendas e mitos, a nossa identidade cultural construída aos trancos e
barrancos das mil e uma colonizações.
É muito fácil arrotar amor à brasilidade com um baseado a
tiracolo e uma cabeça fora da realidade, difícil é convencer a todos de que é necessário
proteger a nossa memória para que
possamos formar uma sociedade consciente
do valor de suas raízes.
Küsse Amigos e ....