
O fim do ano chega e com ele todas as porcarias da televisão aberta para deixar a sua noite de Natal e Reveillon uma verdadeira versão tupiniquim do Halloween: “Xuxa Especial de Natal”, “Esqueceram de mim” pela 55547598 vez ,“ Show da virada”...
... Haja anti ácido para essa azia!
Mas não pode vomitar agora, por que o prato principal ainda está a caminho e vem sempre no mesmo sabor azedo da repetição: Big Brother Brasil, 10° edição.
Por que outro?Por que a mesmice não exige a análise do organismo que ela emburrece, sendo digerida sem qualquer contestação.
Diferente do Brasil, congelado em um modelo hermético e previsível, outros paises ao redor do mundo que também consomem os reality shows, conseguiram explorar essa atração televisiva em vertentes bem mais complexas.
Quer um exemplo? A Mtv americana decidiu gravar um reality show com um dj da cena de Nova York que a procurou com o objetivo de ajudar outras pessoas a se livrarem das drogas assim como ele o fez.
Porém, durante as gravações, mais especificamente no mês de agosto deste ano, o mesmo dj foi encontrado morto por overdose de remédios e cocaina. Dai criou-se o dilema: exibir ou não a atração? A Mtv exibiu! Dividiu opiniões, suscitou debates, enfim, ousou e polemizou!
Esse é um dado simples para que possam observar a criatividade rasteira de um Big Brother Brasil, onde a “polêmica” ainda é a orientação sexual de uma pessoa, a tatuagem de outra, o modo como uma terceira se veste, em suma: discussões medíocres que caminham para o não menos óbvio, lugar comum.
Alguns podem dizer que exibir um reality show sobre uma pessoa fracassada em sua reabilitação como ex drogado é pura falta de ética. Então eu volto ao nosso caso clássico entre Big Brothers, A fazenda e afins: o que é ético na tv brasileira?
Exibir mulheres seminuas como produto de um marketing pornô disfarçado?Ridicularizar pessoas por sua baixa escolaridade como no caso da ex bbb incapaz de cantar os versos de We Are The World?Ou seria ético chamar de artista pessoas que saracoteiam o traseiro frente a uma câmera ginecológica em tempo real?
Não há ética no capitalismo, muito menos nos realitys shows que são filhos legítimos de sua prole infindável.
O único interesse de um programa desse nível em nosso pais é estagnar ainda mais a compreensão já comprometida de alguns brasileiros em relação a sua própria realidade. É travar qualquer possibilidade de reação e questionamento, e isso é intrínseco ao clichê ignorante desses programas.
Fala-se em “atração interativa”, onde o espectador participa e decide o final: quanta tolice!O modelo dos reality shows é meramente reativo: as decisões são tomadas primeiro lá dentro e só depois repassadas ao público para votação. Isso sem citar as mil e uma edições e montagens que ludibriam o espectador e lhe fazem acreditar que este ou aquele participante seja ora mocinha ora bandido.
Ainda dizem que a espécie humana é naturalmente voyeur, que gosta de espiar a vida alheia, etc, mas isso nem é voyerismo! O voyerismo consiste em ver sem ser visto, e todo mundo ali sabe que esta sendo visto.
Dentre tantas outras limitações e mentiras, os reality shows brasileiros incorporam o mais baixo sentido de uma atração enlatada do U.S.A: mais uma fonte de botulismo para a uma sociedade que já está doente.